A MENINA E O PERU - A MESMA HISTÓRIA NUNCA É A MESMA

O primeiro contato quer tive com o trabalho de Luiz Zerbini ocorreu em 1988 numa exposição na Escola de Artes Visuais do Parque Laje / RIO - "Geração 80". Era uma tarde chuvosa e o Maciço da Tijuca represava uma espessa camada de nuvens de tons cinza prateado com matizes em azul formadas pela condensação que se precipitava com vigor em meio ao som de trovões. Nesse cenário deparei-me com a obra que ora apregoo, de autoria de Zerbini.

Imponente e de grande dimensão a mesma estava colocada de forma estratégica (suponho) ao alto do 'pé direito' vertiginoso do hall que dava acesso ao salão principal da Mostra. A beleza e dramaticidade da tela, "A Menina e o Peru" arrebatou minha mente e coração de forma instantânea...fiquei paralisado por um bom tempo assimilando a força daquele trabalho, e os diversos sentidos que o mesmo poderia ter.

A menina, em trajes infantis - não tem rosto definido - segura com firmeza e determinação um poderoso machado com uma mão, enquanto que acena positivamente com a outra (mão) para a ave no sentido de angariar sua confiança (ou seria obediência?) e traze-la até seu raio de alcance mortal.

O peru, sem que estivesse aprisionado a corda ou garrote, parece saber o que lhe espera, mas assim mesmo caminha em direção ao fim trágico, com expressão de horror e a angústia dos "vencidos". Entre ambos, o local do sacrifício representado por uma pedra.

Acima, Zerbini consegue reproduzir toda dramaticidade da cena principal pintando um céu extremamente denso, tenebroso, mas que consegue ser ao mesmo tempo belo. O plano de visão térreo mostra amplidão de área cultivada, sugerindo, simetria, precisão, colheita futura e produtividade. E a flor em tom roxo/lilás a direita da cena, o que representa? A inocência perdida? Esperança? A Morte? Nunca soube, mas tive diversas interpretações para ela (a flor roxa) ao longo dos quase 40 anos que acompanho de perto, e admiro esse trabalho.

Sobre o artista não há o que se acrescentar, pois muito já foi dito, antes mesmo da recente e marcante exposição Individual ocorrida no MASP em parceria com o ITAÚ, "A MESMA HISTÓRIA NUNCA É A MESMA.

Mais uma vez sua telas; Primeira Missa; Massacre de Haximu; Paisagem Inútl; Rio das Mortes; Canudos Não Se Rendeu e Macunaíma, arrebatam minha mente e coração, exatamente como fez, A MENINA E O PERU, nos longínquos anos da "Geração 80"... como uma história, que (aqui) se repete.

Eduardo Borgerth Teixeira

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